A bossa nova é um movimento da
música popular brasileira surgido no final da
década de 1950 e início da
de 1960. De início, o termo era apenas relativo a um novo modo de
cantar e tocar
samba naquela época. Anos depois, Bossa Nova se tornaria um dos gêneros musicais brasileiros mais conhecidos em todo o mundo, especialmente associado a
João Gilberto,
Vinicius de Moraes,
Antonio Carlos Jobim e
Luiz Bonfá.
A palavra bossa apareceu pela primeira vez na
década de 1930, em Coisas Nossas, samba do popular cantor
Noel Rosa: O samba, a prontidão/e outras bossas,/são nossas coisas(...). A expressão bossa nova passou a ser utilizada também na
década seguinte para aqueles sambas de
breque, baseado no talento de improvisar paradas súbitas durante a música para encaixar falas.
Alguns críticos musicais destacam a grande influência que a cultura
estadosunidense do Pós-Guerra, de musicos como
Stan Kenton, combinada ao
impressionismo erudito, de
Debussy e
Ravel, teve na bossa nova, especialmente do
jazz. Além disso, havia um fundamental inconformismo com o formato musical de época. Os cantores
Dick Farney e
Lúcio Alves, que fizeram sucesso nos anos da década de 1950 com um jeito suave e minimalista (em oposição a cantores de grande potência sonora) também são considerados influências positivas sobre os garotos que fizeram a Bossa Nova.
Um embrião do movimento, já na
década de 1950, eram as reuniões casuais, frutos de encontros de um grupo de músicos da classe média
carioca em apartamentos da zona sul, como o de
Nara Leão, na Avenida Atlântica, em
Copacabana. Nestes encontros, cada vez mais freqüentes, a partir de
1957, um grupo se reunia para fazer e ouvir música. Dentre os participantes estavam novos compositores da música brasileira, como
Billy Blanco,
Carlos Lyra,
Roberto Menescal e
Sérgio Ricardo, entre outros. O grupo foi aumentando, abraçando também
Chico Feitosa,
João Gilberto,
Luiz Carlos Vinhas,
Ronaldo Bôscoli, entre outros.
Primeiro movimento musical brasileiro egresso das faculdades, já que os primeiros concertos foram realizados em âmbito universitário, pouco a pouco aquilo que se tornaria a bossa nova foi ocupando bares do circuito de Copacabana, no chamado Beco das Garrafas.
No final de
1957, numa destas apresentações, no Colégio Israelita-Brasileiro, teria havido a idéia de chamar o novo gênero - então apenas denominado de samba sessions, numa alusão à fusão entre samba e jazz - , através de um recado escrito num quadro-negro, provavelmente escrito por uma secretária do colégio, chamando as pessoas para uma apresentação de samba-sessions por uma turma "bossa-nova". No evento participaram
Carlos Lyra,
Ronaldo Bôscoli,
Sylvia Telles,
Roberto Menescal e
Luiz Eça, onde foram anunciados como "(...)grupo bossa nova apresentando sambas modernos"
Início oficialMovimento que ficou associado ao crescimento urbano brasileiro - impulsionado pela fase desenvolvimentista da presidência de
Juscelino Kubitschek (
1955-
1960) -, a bossa nova iniciou-se para muitos críticos quando foi lançado, em
agosto de
1958, um
compacto simples do violonista
baiano João Gilberto (considerado o papa do movimento), contendo as canções Chega de Saudade (
Tom Jobim e
Vinicius de Moraes) e Bim Bom (do próprio cantor).
Meses antes, João participara de Canção do Amor Demais, um álbum lançado em
maio daquele mesmo ano e exclusivamente dedicado às canções da iniciante dupla Tom/Vinicius, interpretado pela cantora
fluminense Elizeth Cardoso. De acordo com o escritor
Ruy Castro (em seu livro Chega de saudade, de
1990), este LP não foi um sucesso imediato ao ser lançado, mas o disco pode ser considerado um dos marcos da bossa nova, não só por ter trazido algumas das mais clássicas composições do gênero - entre as quais, Luciana, Estrada Branca, Outra Vez e Chega de Saudade-, como também pela célebre batida do violão de
João Gilberto, com seus acordes dissonantes e inspirados no
jazz norte-americano - influência esta que daria argumentos aos críticos da bossa nova.
Outras das características do movimento eram suas letras que, contrastando com os sucessos de até então, abordavam temáticas leves e descompromissadas - exemplo disto, Meditação, de
Tom Jobim e
Newton Mendonça. A forma de cantar também se diferenciava da que se tinha na época. Segundo o
maestro Júlio Medaglia, "desenvolver-se-ia a prática do canto-falado ou do cantar baixinho, do texto bem pronunciado, do tom
coloquial da narrativa musical, do acompanhamento e canto integrando-se mutuamente, em lugar da valorização da 'grande voz'"
[2].
Em
1959, era lançado o primeiro LP de João Gilberto, Chega de saudade, contendo a faixa-título - canção com cerca de 100 regravações feitas por artistas brasileiros e estrangeiros. A partir dali, a bossa nova era uma realidade. Além de João, parte do repertório clássico do movimento deve-se as parcerias de Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Consta-se, segundo muitos afirmam, que o espírito bossa-novista já se encontrava na música que Jobim e Moraes fizeram, em 1956, para a peça
Orfeu da Conceição, primeira parceria da dupla, que esteve perto de não acontecer, uma vez que Vinícius primeiro entrou em contato com Vadico, o famoso parceiro de Noel Rosa e ex-membro do
Bando da Lua, para fazer a trilha sonora. É dessa peça, baseada na tragédia Grega
Orfeu, uma das belas composições de Tom e Vinícius, "Se todos fossem iguais a você", já prenunciando os elementos melódicos da Bossa Nova.
Além de Chega de saudade, os dois compuseram
Garota de Ipanema, outra representativa canção da bossa nova, que se tornou a canção brasileira mais conhecida em todo o mundo, depois de Aquarela do Brasil (
Ary Barroso), com mais de 169 gravações, entre as quais de
Sarah Vaughan,
Stan Getz,
Frank Sinatra (com Tom Jobim),
Ella Fitzgerald entre outros. É de Tom Jobim também, junto com
Newton Mendonça, as canções Desafinado e Samba de uma Nota Só, dois dos primeiros clássicos do novo gênero musical brasileiro a serem gravados no mercado norte-americano a partir de
1960.
ReconhecimentoCom o passar dos anos, a bossa nova que no Brasil era inicialmente considerada música de "elite" (cultural), tornou-se cada vez mais popular com o público brasileiro, em geral. Em
1962, foi realizado um histórico concerto no Carnegie Hall de
Nova Iorque, consagrando mundialmente o estilo musical. Deste espetáculo, participaram, entre outros,
Tom Jobim,
João Gilberto,
Oscar Castro Neves,
Agostinho dos Santos,
Luiz Bonfá,
Carlos Lyra,
Sérgio Mendes,
Roberto Menescal,
Chico Feitosa,
Normando Santos,
Milton Banana,
Sérgio Ricardo, além de artistas que pouco tinham a ver com a bossa nova, como o
pianista argentino Lalo Schifrin.
Mudanças
Em meados da década de 1960, o movimento apresentaria uma espécie de cisão ideológica, formada por
Marcos Valle,
Dori Caymmi,
Edu Lobo e
Francis Hime e estimulada pelo Centro Popular de Cultura da
UNE. Inspirada em uma visão popular e nacionalista, este grupo fez uma crítica das influências do jazz norte-americano na bossa nova e propôs sua reaproximação com compositores de morro, como o sambista
Zé Ketti. Um dos pilares da bossa,
Carlos Lyra, aderiu a esta corrente, assim como
Nara Leão, que promoveu parcerias com artistas do samba como
Cartola e
Nelson Cavaquinho e baião e xote nordestinos como
João do Vale. Nesta fase de releituras da bossa nova, foi lançado em
1966 o antológico LP "
Os Afro-sambas", de
Vinicius de Moraes e
Baden Powell.
Entre os artistas que se destacaram nesta segunda geração (
1962-
1966) da bossa nova estão
Paulo Sérgio Valle,
Edu Lobo,
Ruy Guerra,
Pingarilho,
Marcos Vasconcelos,
Dori Caymmi,
Nelson Motta,
Francis Hime,
Wilson Simonal, entre outros.
Fim do movimento, da bossa à MPBUm dos maiores expoentes da bossa nova comporia um dos marcos do fim do movimento. Em
1965, Vinícius de Moraes compôs, com Edu Lobo, Arrastão. A canção seria defendida por
Elis Regina no I
Festival de Música Popular Brasileira (da extinta
TV Excelsior), realizado no
Guarujá naquele mesmo ano. Era o fim da bossa nova e o início do que se rotularia
MPB, gênero difuso que abarcaria diversas tendências da música brasileira até o início da
década de 1980 - época em que surgiu um pop/rock nacional renovado.
A MPB nascia com artistas novatos, da segunda geração da bossa nova, como
Geraldo Vandré,
Edu Lobo e
Chico Buarque de Holanda, que apareciam com freqüência em festivais de música popular. Bem-sucedidos como artistas, eles tinham pouco ou quase nada de bossa nova. Vencedoras do II Festival de Música Popular Brasileira, realizado em
São Paulo em
1966, Disparada, de Geraldo, e A Banda, de Chico, podem ser consideradas marcos desta ruptura e mutação da bossa em MPB.
Legado
Hoje em dia, inúmeros concertos dedicados à bossa nova são realizados, entre os quais, entre
2000 e
2001, os intitulados 40 anos de Bossa Nova, com Roberto Menescal e Wanda Sá.
O fim cronológico da bossa não significou a extinção estética do estilo. O movimento foi uma grande referência para gerações posteriores de artistas, do
jazz (a partir do sucesso estrondoso da versão instrumental de Desafinado pela dupla
Stan Getz e
Charlie Byrd) a uma corrente pós-
punk britânica (de artistas como
Style Council,
Matt Bianco e
Everything but the Girl).
No
rock brasileiro, há de se destacar tanto a regravação da composição de
Lobão, Me chama, pelo músico bossa-novista
João Gilberto, em 1986, além da famosa música do cantor Cazuza composta por ele e outros músicos, Faz parte do meu show, gravada em 1988, com arranjos fortemente inspirados na Bossa Nova.
Seu legado é valioso, deixando várias jóias da música nacional, dentre as quais
Chega de Saudade,
Garota de Ipanema,
Desafinado, O barquinho, Eu Sei Que Vou Te Amar, Se Todos Fossem Iguais A Você, Outra Vez, Coisa mais linda, Corcovado, Insensatez, Maria Ninguém,
Samba de uma nota só, O pato, Lobo Bobo, Saudade fez um Samba
Artistas do movimento
Grandes nomes
Alaíde CostaAntônio Carlos JobimAstrud GilbertoBaden PowellCarlos LyraClaudette SoaresDanilo CaymmiElizeth CardosoJohnny AlfJoão DonatoJoão GilbertoLuís BonfáLuiz EçaMarcos ValleMaysaMiúchaNara LeãoNewton MendonçaOs CariocasOscar Castro NevesRoberto MenescalRonaldo BôscoliSergio MendesSylvia TellesStan GetzToquinhoVinicius de MoraesZimbo trio